

IRMÃOS MONFORTINOS DE SÃO GABRIEL

ESPIRITUALIDADE DE SÃO LUÍS
São Luís foi um profeta popular, um missionário acima de tudo, que buscou atender às urgências da Igreja de seu tempo e deu à Igreja um caminho extraordinário de seguimento de Cristo, Sabedoria Encarnada. Sendo ele também um grande místico, soube vivenciar na prática, em sua própria vida de oração e proximidade com Deus, tudo aquilo que ele pregava e exortava aos outros irmãos.
Homem livre, de convicções fortes (e porque não loucas - A loucura da Cruz), completamente imerso na confiança e na fé na Providência Divina, fez de sua vida uma doação contínua aos mais pobres, aos excluídos sociais, aos necessitados, aos pecadores, que ele acolhida com terna misericórdia e afeição.
Com tantas qualidades e também limitações que ele soube ir superando ao longo do curso de sua vida, Montfort construiu uma Espiritualidade própria e particular, que ainda hoje alimenta também a vida de toda a Família Monfortina, religiosos(as) e leigos(as) que buscam viver nos passos de Montfort. Sua Espiritualidade está centrada no Mistério Trinitário que vêm aos homens e se encarna por meio de Maria. Trazemos aqui, seis elementos essenciais que constituem a Espiritualidade de São Luís de Montfort:

Só Deus
São Luís foi um homem de muita dedicação aos escritos dos grandes mestres espirituais da história da Igreja. Passava muitas horas em suas leituras da vida e dos escritos dos santos. Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz foram inspirações para a criação de seu lema tão famoso "Só Deus". Tudo é medido em função do absoluto e da grandeza de Deus. Só Deus é a razão de nossa existência.
Somente este lema explica o porque de suas escolhas e condutas tão confusas para seus amigos e familiares. Para seu amigo Blan ele um dia diz: "Um apóstolo se nutre da Glória de Deus. (...) O missionário deve centrar-se somente em Deus; a Glória de Deus deve ser sua única preocupação." "Mundo enganador, você não vai me governar. Só Deus" - Cântico 30
Jesus, Sabedoria Encarnada
Se São Luís era tão atento aos escritos dos santos, o que dizer sobre a palavra de Deus? Grande conhecedor da Bíblia, Montfort vê na Sabedoria amiga do homem, o próprio Jesus Encarnado (O Amor da Sabedoria Eterna - ASE, nº 70). A Sabedoria é o caminho para a conversão da forma humana de vida (com seus pecados e quedas) para uma forma divina de vida, aquela que está preparada para nós, junto à Sabedoria de Deus. Esta vida é caminho de preparação para a próxima.
"A Sabedoria fez-se homem com a finalidade única de atrair os corações dos homens à sua amizade e à sua imitação." (ASE, nº 117). "A Sabedoria eterna encarnou. Deus fez-se homem sem deixar de ser Deus.

E este Homem-Deus chama-se Jesus Cristo, ou seja, Salvador." (ASE nº 108). "Aqui temos, pois, o resumo das grandes e importantes verdades que a Sabedoria eterna veio pessoalmente ensinar-nos sobre a terra, após, Ela mesma, as ter posto em prática; fez isso para nos arrancar da cegueira e desconcerto a que os nossos próprios pecados nos tinham conduzido." (ASE nº 153).
O caminho para a conversão pessoal é a Sabedoria eterna. Devemos desejá-la e pedir por ela "...noite e dia, sem se cansar nem desfalecer." (ASE nº 188).


A Cruz
"A Cruz é um mistério / sobretudo na Terra / sem luz abundante / seu significado não é conhecido." Cântico 102, 2
Em íntima comunhão com a Sabedoria, São Luís faz da Cruz um outro importante pilar se sua Espiritualidade. "Nunca a Cruz sem Jesus, nem Jesus sem a Cruz" (ASE nº 172). "Que cruz não ter Cruz" dizia ele quando uma de suas missões caminhava sem dificuldades aparente.
Ser cristoforme (conforme Jesus Cristo) é também assumir o caminho de cruzes próprias da vida humana. Se Jesus as teve em toda a sua caminhada, carregou-as e mesmo foi crucificado nela, porque nós haveremos de fugir da Cruz? Por isto Montfort
deseja a Cruz. Ele a beijava como sinal de comunhão com o Crucificado, Sabedoria Encarnada e Eterna. Por isto instalou uma grande cruz na sala de reuniões das primeiras Filhas da Sabedoria. Para São Luís, a cruz é caminho que humilha e faz-nos tomar consciência de nossa condição de pecador e de como é grande a misericórdia de Deus para conosco.
As promessas batismais
São Luís era consciente de toda a graça que o Homem, sendo criatura, recebeu e continua recebendo de Deus. Para ele, a caminhada de seguimento de Cristo tem um início e ponto crucial em uma outra graça: sermos chamados e considerados filhos de Deus pelo Batismo.
Montfort via que a vivência responsável das promessas batismais era essencial para o caminho de conversão da sabedoria mundana para a sabedoria de Deus, Jesus Cristo. Por isto, tamanha importância neste sacramento, e não somente como lembrança, mas no compromisso de reafirmar e vivenciar a cada dia as promessas já feitas.
Nas missões que São Luís pregava por toda a França, ao final de uma preparação, ele

exortava para que as pessoas renovassem as promessas batismais, como forma de renovar o espírito do cristianismo. E dizia: "No seu batismo, o cristão escolheu Jesus como seu único Mestre e Soberano, e comprometeu-se a depender dele como um escravo de amor". Na época, a escravidão era algo aceito socialmente e que fazia parte da realidade das pessoas. Daí utilizar esta expressão (tão questionada atualmente), mas com um grande diferencial: "de amor". A escravidão que devemos ter para com Jesus parte do amor, do amor Trinitário.


A Consagração à Jesus por Maria
A Sabedoria eterna e encarnada, para a qual devemos esta servidão eterna, veio ao mundo por sim também serviçal de uma mulher, uma serva que soube se doar totalmente aos planos de Deus nesta vida terrena e fazer somente a vontade d'Ele. Esta mulher foi Maria, a Virgem Santíssima concebida sem pecado, Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa do Espírito Santo que repousou sobre ela.
Toda a devoção mariana em São Luís, aquele que era conhecido como o "Padre com o grande rosário", parte do mistério da Encarnação de Jesus Cristo. Para ele, esta devoção é um caminho espiritual para trazer o Reino de Jesus-Sabedoria. Se o Reino de Deus, que é Jesus, entrou para a história da humanidade por Maria, é também através dela que Jesus deve entrar em nós.
Montfort, muito humilde, relata que existem outras formas de alcançar Jeus Cristo, mas que para ele, esta Consagração Total à Jesus por Maria é o caminho mais fácil, mais seguro, mais curto e mais perfeito que ele pode encontrar (Tratado da Verdadeira Devoção, nº 168). Essa consagração de si mesmo a Maria é a porta de entrada privilegiadas para entrar em relação com Jesus. "Ó Virgem fiel!, tornai-me em todas as coisas um tão perfeito discípulo, imitador e escravo da Sabedoria Encarnada, Jesus Cristo, Vosso Filho, que eu chegue, por vossa intercessão, e a Vosso exemplo, à plenitude de sua idade na terra e da sua glória nos céus." (ASE, nº 227).
Assim não há diferença entre a consagração e a renovação das promessas batismais. Os ritos e fórmulas podem ser diferentes, mas eles falam da mesma realidade teológica e espiritual.
O cuidado com os pobres
Buscar as coisas para os pobres, tê-los aos seu redor, servir os pobres, não é uma compensação psicológica ou social para o filho dos Grignon, nascido em uma família de classe média baixa. Antes, Montfort está convencido do que diz Jesus pelo evangelho quando questionado se era ele o Messias: "Voltem e contem a João o que vocês estão vendo e ouvindo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia" (Mt 11, 4-5). O Reino chegou! Jesus faz do cuidado para com os pobres e excluídos o sinal de que o Reino está chegando; que ele está lá, na porta. Para Montfort é a pedra angular para a conversão.
Como Jesus, Montfort faz o Reino acontecer curando os enfermos, vestindo os nus,

alimentando os famintos, resgatando os aflitos, abrindo as mentes, reconciliando as pessoas. As situações encontradas em Mateus 25 tornam-se reais em sua vida; o verdadeiro pobre é Jesus, se ajudarmos um pobre é a Ele que o estamos ajudando. Na noite, quando Montfort carrega em seus ombros um leproso, ele grita: "Abram a Jesus Cristo" e em outra ocasião: "Abram seus corações para o Reino que está chegando".
Durante suas missões nas paróquias, Montfort incentivava pelo catecismo e suas pregações, que as pessoas pudessem fornecer aos pobres, alimentos e roupas, bem como acolhê-los em abrigos ou mesmo em sua própria casa, pois são o próprio Jesus. As congregações que nascem da Espiritualidade de Montfort são frutos deste cuidado para com os pobres, seja no anúncio do Evangelho aos excluídos, no cuidado físico para com os mais carentes, ou na oferta da educação para aqueles que não tinham acesso.